WFIRST da NASA vai ajudar a descobrir o destino do Universo
Os cientistas descobriram que
uma pressão misteriosa chamada "energia escura" compõe cerca de 68%
do conteúdo energético total do cosmos, mas até agora não sabemos muito sobre
ela. A exploração da natureza da energia escura é uma das principais razões
pelas quais a NASA está a construir o WFIRST (Wide Field Infrared Survey
Telescope), um telescópio espacial cujas medições vão ajudar a iluminar o
quebra-cabeças da energia escura. Com uma melhor compreensão da energia escura,
teremos uma melhor noção da evolução passada e futura do Universo.
Um
Cosmos em expansão
Até ao século XX, a maioria
das pessoas achava que o Universo era estático, permanecendo essencialmente
inalterado por toda a eternidade. Quando Einstein desenvolveu a sua teoria
geral da relatividade em 1915, descrevendo como a gravidade atua através do tecido
do espaço-tempo, ele ficou intrigado ao descobrir que a teoria indicava que o
cosmos ou devia expandir-se ou contrair-se. Ele fez alterações para preservar
um Universo estático, acrescentando algo que chamou de "constante
cosmológica", mesmo não existindo evidências da sua existência. Esta força
misteriosa deveria neutralizar a gravidade para manter tudo no lugar.
No entanto, no final da
década de 1920, o astrónomo George Lemaitre, e depois Edwin Hubble, fizeram a
descoberta surpreendente de que, com poucas exceções, as galáxias estão a
afastar-se umas das outras. O Universo estava longe de ser estático - estava a
"inchar". Consequentemente, se imaginarmos rebobinar esta expansão,
deverá ter havido uma altura em que tudo no Universo estava quase impossivelmente
quente e próximo.
O
fim do Universo: fogo ou gelo?
A teoria do Big Bang descreve
a expansão e a evolução do Universo a partir deste estado inicial superquente e
superdenso. Os cientistas teorizaram que a gravidade acabaria por desacelerar e
possivelmente até reverter completamente esta expansão. Se o Universo tivesse
matéria suficiente, a gravidade superaria a expansão e o Universo entraria em
colapso num grande "Big Crunch" de fogo.
Caso contrário, a expansão
nunca terminaria - as galáxias afastar-se-iam umas das outras cada vez mais até
que passassem para lá da orla do Universo observável. Os nossos distantes
descendentes poderão não ter conhecimento da existência de outras galáxias uma
vez que estariam demasiado longe para serem visíveis. Grande parte da
astronomia moderna pode um dia ser reduzida a mera lenda, à medida que o
Universo desvanece gradualmente para uma gelada escuridão.
O
Universo não está apenas a expandir-se - está a acelerar
Os astrónomos mediram o ritmo
de expansão usando telescópios terrestres para estudar explosões de supernovas
relativamente próximas. O mistério cresceu em 1998 quando observações de
supernovas mais distantes, pelo Telescópio Espacial Hubble, ajudaram a mostrar
que o Universo realmente se expandiu mais lentamente no passado do que hoje. A
expansão do Universo não está a diminuir devido à gravidade, como todos
pensavam. Está a acelerar.
Avançando rapidamente para
hoje. Embora ainda não saibamos, exatamente, a razão desta aceleração, a
"culpada" recebeu um nome - energia escura. Esta pressão misteriosa
permaneceu desconhecida por tanto tempo porque é tão fraca que a gravidade se
sobrepõe a ela à escala dos humanos, dos planetas e até da nossa Galáxia. Está
presente na sua sala enquanto lê, dentro do seu próprio corpo, mas a gravidade
neutraliza-a para que não saia a voar do seu lugar. Somente a escalas
intergalácticas é que a energia escura se torna percetível, agindo como uma
espécie de oposição fraca à gravidade.
O
que é a energia escura?
O que é, exatamente, a
energia escura? Desconhecemos mais do que sabemos, mas os teóricos estão à
procura de algumas explicações possíveis. A aceleração cósmica pode ser
provocada por um novo componente energético, o que exigiria alguns ajustes na
teoria da gravidade de Einstein - talvez a constante cosmológica, que Einstein
chamou do seu maior erro seja, afinal, real.
Alternativamente, a teoria da
gravidade de Einstein pode quebrar-se a escalas cosmológicas. Se for esse o
caso, a teoria precisará de ser substituída por uma nova que incorpore a
aceleração cósmica que observamos. Os teóricos ainda não sabem qual é a
explicação correta, mas o WFIRST ajudar-nos-á a descobrir.
WFIRST irá iluminar a energia
escura
As missões anteriores
reuniram algumas pistas, mas até agora não produziram resultados que favorecem
fortemente uma explicação ou outra. Com a mesma resolução das câmaras do
Hubble, mas com um campo de visão 100 vezes maior, o WFIRST produzirá imagens
grandes do Universo nunca antes vistas. A nova missão avançará a exploração da
energia escura de maneiras que outros telescópios não conseguem, mapeando como
a matéria é estruturada e distribuída por todo o cosmos e medindo também um
grande número de supernovas distantes. Os resultados indicarão como a energia
escura atua por todo o Universo e se mudou ao longo da história cósmica.
A missão vai usar três
métodos de pesquisa para procurar uma explicação da energia escura.
O HLSS (High Latitude
Spectroscopic Survey) vai medir com precisão distâncias e posições de milhões
de galáxias usando uma técnica de "régua padrão". A medição de como a
distribuição das galáxias varia com a distância vai abrir uma janela para a
evolução da energia escura ao longo do tempo. Este estudo vai ligar as distâncias
das galáxias com os ecos de ondas sonoras logo após o Big Bang e testar a
teoria da gravidade de Einstein ao longo da idade do Universo.
O WFIRST também vai realizar
um levantamento de um tipo de explosão estelar, baseando-se nas observações que
levaram à descoberta da expansão acelerada. As supernovas do Tipo Ia ocorrem
quando as estrelas anãs brancas explodem. As supernovas do Tipo Ia geralmente
têm o mesmo brilho absoluto no seu pico, tornando-as no que os astrónomos
apelidam de "velas padrão". Isto significa que os astrónomos podem
determinar a que distância estão a ver o seu brilho da Terra - e quanto mais
longe estão, mais ténues parecem.
Os astrónomos também vão observar
comprimentos de onda específicos provenientes de supernovas para descobrir com
que rapidez as estrelas moribundas estão a afastar-se nós. Ao combinarem
distâncias com medições de brilho, os cientistas podem ver como a energia
escura evoluiu ao longo do tempo, fornecendo uma verificação cruzada com os
dois levantamentos.
Adicionalmente, o HLIS (High
Latitude Imaging Survey) vai medir as formas e distâncias de inúmeras galáxias
e enxames galácticos. A imensa gravidade de objetos massivos distorce o
espaço-tempo e faz com que as galáxias mais distantes pareçam distorcidas. A
observação do grau de distorção permite que os cientistas possam inferir a
distribuição de massa por todo o cosmos.
Isto inclui toda a matéria que podemos
ver diretamente, como planetas e estrelas, bem como a matéria escura - outro
mistério cósmico escuro que é "visível" apenas devido aos seus
efeitos gravitacionais sobre a matéria normal. Este levantamento fornecerá uma
medição independente do crescimento da estrutura a larga escala do Universo e
de como a energia escura tem afetado o cosmos.
"A missão WFIRST é única
na combinação destes três métodos. Levará a uma interpretação muito robusta e
rica dos efeitos da energia escura e permitir-nos-á fazer uma declaração
definitiva sobre a natureza da energia escura," disse Olivier Doré, cientista
do JPL da NASA em Pasadena, no estado norte-americano da Califórnia, e líder da
equipe que está a planear os dois primeiros métodos de pesquisa com o WFIRST.
Descobrir como a energia
escura afetou a expansão do Universo no passado vai lançar alguma luz sobre
como influenciará a expansão no futuro. Se continuar a acelerar a expansão do
Universo, podemos estar destinados a sofrer um "Big Rip". Neste
cenário, a energia escura acabará por tornar-se dominante sobre as forças
fundamentais, fazendo com que tudo o que está atualmente unido - galáxias,
planetas, pessoas - se separe. A exploração da energia escura vai permitir-nos
investigar e possivelmente prever o destino do Universo.
Fonte: Astronomia OnLine
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