Alinhamento planetário favorece envio de nave a Urano e Netuno nos anos 2030
Na próxima década, teremos
uma chance rara de fazer com que naves espaciais cheguem a Urano e Netuno mais
rapidamente. É que um alinhamento planetário entre ambos e Júpiter acontecerá o
início de 2030, permitindo que uma espaçonave use a ação gravitacional do maior
gigante gasoso como um impulso e tanto para chegar aos dois últimos planetas do
Sistema Solar. Só que, para isso, tais missões já deveriam estar ao menos na
mesa de projetos — do contrário, não haverá tempo hábil para aproveitar a
oportunidade.
Aproveitar essa chance
significa, além de uma viagem mais curta (e, portanto, estudos científicos e
descobertas demorariam menos para acontecer), economia de combustível, pois a
nave usaria menos combustível em sua viagem ao se aproveitar do impulso gravitacional
joviano. Outra consequência de se carregar menos combustível é ganhar espaço
para levar a bordo ainda mais instrumentos científicos.
Para tirar proveito desse
alinhamento planetário, uma missão para Urano e Netuno deve ser lançada em
2031, sobrevoando Vênus em 2034, passando por Júpiter em 2036 e chegando a
Urano em 2043. Ou seja: em apenas 12 anos uma nova sonda poderia chegar a esse
destino. Urano e Netuno são os planetas menos explorados do Sistema Solar. Em
comparação com os demais, sabemos pouco sobre eles, que foram visitados apenas
uma vez por uma espaçonave — a Voyager 2, lançada em 1977 e passando por lá
entre 1986 e 1989.
Mark Hofstadter, cientista
planetário na NASA, garantiu que eles não querem perder tal oportunidade de
ouro. Contudo, o tempo apertado para planejamento, aprovação orçamentária e
desenvolvimento é um empecilho e tanto. Normalmente, leva-se mais ou menos uma
década para se preparar uma missão do tipo, então a NASA precisaria priorizar
essa nova missão desde já. Contudo, a agência espacial está extremamente focada
em seus planos de retornar à Lua, estabelecer uma presença humana constante e
sustentável por lá, para depois levar os primeiros astronautas a Marte — sendo
este programa o prioritário do momento, especialmente por ser de grande
interesse do Governo dos Estados Unidos.
Outro problema é que, para a
década de 2030, a NASA já está bastante comprometida, incluindo o ambicioso
pouso de humanos em Marte, novos telescópios e observatórios espaciais, e
missões para pousar sondas em luas e objetos menores no Sistema Solar. Como uma
alternativa, a Agência Espacial Europeia (ESA) poderia encarar tal missão sob a
liderança da NASA, mas isso exigiria uma decisão do governo dos EUA para a
liberação de verbas — é que a ESA já está comprometida com duas grandes missões
para o início dos anos 2030, e dificilmente conseguiria, apenas por conta
própria, priorizar uma nova missão a Urano e Netuno em tempo de aproveitar a
janela de lançamento. Qualquer iniciativa do tipo sairá muito cara dado o
caráter emergencial de desenvolvimento.
Contudo, qualquer outra
agência espacial mundo afora pode planejar missões mais simples e mais baratas,
em tempo do próximo alinhamento planetário favorável. Independentemente de quem
o fizesse, certamente ciência preciosa seria produzida, ainda que numa escala
inferior ao que seria possível caso tal missão fosse encabeçada por uma agência
espacial mais cheia de recursos como a NASA.
Estudar Urano e Netuno de
perto, com tecnologias atuais e muito mais poderosas do que as presentes na
Voyager 2, é importante para uma compreensão cada vez melhor do Sistema Solar.
Muitos tratam os dois planetas como gêmeos por terem tamanhos e massas
semelhantes, mas a verdade é que ninguém sabe ainda o quão parecidos eles
realmente são em termos de composição ou histórico de formação. Modelos
computacionais ainda não nos dão respostas definitivas sobre suas estruturas internas,
tampouco explicam por que Netuno, mais distante, parece ser mais quente do que
Urano, que fica mais próximo do Sol.
Ainda, uma missão do tipo
rumo a esses "gigantes gelados" também seria útil para os atuais
estudos de exoplanetas, aqueles que orbitam outras estrelas além do nosso Sol.
Afinal, quase metade dos exoplanetas conhecidos hoje em dia parecem ser
gigantes gasoso, e compreender o que seus tamanhos e dados atmosféricos revelam
sobre sua formação depende diretamente de compreendermos gigantes gasosos em
nosso próprio quintal espacial.
Caso a janela ideal de
lançamento da década de 2030 não seja aproveitada, haverá outro alinhamento,
quase tão favorável quanto, em meados da década de 2040.
Fonte: Canaltech
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