O manto da Terra, não o seu núcleo, pode ter gerado o campo magnético inicial do planeta
Em um estudo recém-publicado,
os pesquisadores fornecem novas estimativas para a termodinâmica da geração do
campo magnético dentro da porção líquida do manto inicial da Terra, e mostram
por quanto tempo esse campo ficou disponível. O estudo fornece uma ideia de
como resolver algumas inconsistências na narrativa dos primeiros dias da Terra. Atualmente não se tem uma teoria unificada
sobre como a Terra se desenvolveu do ponto de vista térmico. Não existe esse
arcabouço conceitual para entender a evolução do planeta. Os estudos
apresentados agora representam os últimos desenvolvimentos em algo que poderia
mudar como a história da Terra é entendida.
Parece um dogma na geofísica
que o núcleo externo líquido da Terra sempre foi a fonte do dínamo que gerou o
seu campo magnético. Campos magnéticos se formam na Terra e em outros planetas
que possuem núcleos líquidos e metálicos, que giram rapidamente, e que
experimentam condições que fazem com que a convecção do calor seja possível.
Em 2007, pesquisadores na
França propuseram uma alternativa radical para a premissa sempre usada de que o
manto da Terra, permaneceu inteiramente sólido desde o início da vida do
planeta. Eles argumentaram que durante a primeira metade da história do planeta
Terra, a parte mais basal do manto da Terra, aproximadamente um terço do manto,
pode ter sido derretido, e essa parte recebeu o nome de Oceano de Magma Basal.
Seis anos depois um grupo de pesquisadores expandiu essa ideia e publicou o
primeiro trabalho mostrando que essa porção líquida do manto inferior, ao invés
do núcleo, poderia ter criado o campo magnético da Terra, durante esse período.
O manto da Terra é feito de
material silicato que é normalmente um condutor elétrico muito pobre. Mesmo
assim, se a parte mais inferior do manto fosse líquida por bilhões de anos, o
movimento rápido do fluido ali dentro poderia produzir uma grande corrente
elétrica necessária para a geração do campo magnético, algo bem parecido com o
dínamo que atualmente funciona no núcleo da Terra. Os pesquisadores disseram
que o silicato líquido poderia na verdade ser um melhor condutor elétrico do
que se pensava anteriormente.
Os pesquisadores que
propuseram essa ideia primeiro sofreram de um grande ceticismo, pois os
primeiros resultados mostraram que o dínamo de silicatos só seria possível se a
condutividade elétrica desse silicato líquido fosse extremamente alta, bem mais
alta do que a condutividade elétrica medida nos silicatos líquidos em baixa
pressão e temperatura.
Mas agora um outro grupo de
pesquisadores usou simulações de mecânica quântica para prever a condutividade
do silicato líquido no oceano de magma basal, pela primeira vez. De acordo com o trabalho, foram encontrados
valores bem altos para a condutividade elétrica, valores altos o suficiente
para sustentar um dínamo de silicatos. Em outro artigo, outros
pesquisadores aplicaram o mesmo conceito para considerar se seria possível que
Vênus pudesse ter em algum ponto gerado um campo magnético dentro do seu manto
derretido.
Esses novos estudos são
sinais de que a premissa está ganhando força, mas ainda está longe de ser
aceita de forma mais ampla. Esses novos trabalhos são muito importantes, pois
ajudam a responder uma grande questão, que atormenta os cientistas por anos, como
o campo magnético da Terra sobreviveu por bilhões de anos?
Se a premissa do manto
estiver correta, isso significaria que o manto poderia ter fornecido o primeiro
escudo magnético para a Terra, no início da sua história, contra a radiação
cósmica. Isso também poderia ajudar em estudos sobre como o tectonismo
desenvolveu posteriormente na história do planeta.
Se o campo magnético da Terra
foi gerado no manto inferior derretido, acima do núcleo, então a Terra já tinha
uma proteção desde o início e isso pode ter feito a vida na Terra ter surgido
antes. Todos esses trabalhos
demonstram que os oceanos de magma basal são importantes na evolução dos
planetas rochosos. O oceano de magma basal da Terra solidificou mas foi
importante para a longevidade do campo magnético do nosso planeta.
Fonte:
Sciencedaily.com
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