Cientistas descobrem a fonte de rajadas rápidas de rádio mais próxima da Terra
Um estudo publicado na revista científica Nature na quarta-feira (23)
descreve a descoberta da fonte mais próxima de flashes misteriosos no céu
conhecidos como rajadas rápidas de rádio. Radiotelescópios de precisão
revelaram que essas explosões ocorrem entre estrelas antigas, e de uma forma
que ninguém poderia imaginar. O que também foi surpreendente para os astrônomos
é que a fonte dos flashes, na galáxia espiral Messier 81, é a mais próxima da
Terra já detectada.
Rajadas rápidas de rádio (FRB, na sigla para a expressão em inglês Fast
Radio Bursts) – flashes de luz extremamente curtos no espaço – são
imprevisíveis. E os astrônomos têm lutado para entender esse fenômeno desde que
foi visto pela primeira vez, em 2007. Até agora, eles só foram detectados por
radiotelescópios.
Cada flash dura apenas milésimos de segundo. No entanto, um único flash
desses envia tanta energia quanto o Sol fornece em um dia. Várias centenas de
flashes são disparados no espaço todos os dias. A maioria deles, muito longe da
Terra, em galáxias a bilhões de anos-luz de distância.
Equipe estava investigando a
galáxia Ursa Maior
Uma equipe internacional de astrônomos liderada por Franz Kirsten, da
Universidade Técnica Chalmers, na Suécia, e Kenzie Nimmo, da Universidade de
Amsterdã, na Holanda, apresenta observações que levam os cientistas a um passo
mais perto de resolver o mistério. E, ao mesmo tempo, levantam novas dúvidas.
Kirsten e Nimmo, que também são membros do Instituto Holandês de Radioastronomia
(ASTRON), estavam fazendo medições de alta precisão de uma fonte de rajadas
rápidas de rádio descoberta em janeiro de 2020, na constelação de Ursa Maior.
“Queríamos procurar pistas sobre as origens das explosões. Usando
muitos radiotelescópios juntos, sabíamos que poderíamos identificar a
localização da fonte no céu com extrema precisão. Isso dá a oportunidade de ver
como é a vizinhança de uma explosão rápida de rádio”, diz Kirsten.
Ao analisar suas medições, a equipe de mais de 60 astrônomos, descobriu
que os repetidos flashes de rádio vinham de algum lugar do qual ninguém
esperava. As rajadas foram rastreadas até os arredores da galáxia espiral
Messier 81 (M 81), a cerca de 12 milhões de anos-luz de distância, o que faz
dessa a detecção mais próxima de uma fonte de rajadas rápidas de rádio.
Fonte de rajadas rápidas de rádio
trouxe mais surpresas
No entanto, essa não foi a única surpresa dos pesquisadores. O local
combinava exatamente com um grupo denso de estrelas muito antigas, conhecido
como um aglomerado globular. “É incrível encontrar rajadas rápidas de rádio de
um aglomerado globular! Este é um lugar no espaço onde você só encontra
estrelas antigas. Mais adiante no universo, foram encontradas rápidas rajadas
de rádio em lugares onde as estrelas são muito mais jovens”, revelou Nimmo.
“Embora a semelhança da explosão com a emissão de alguns pulsares em
nossa galáxia nos coloque em um lugar conhecido, os progenitores de FRB podem
ser bastante diversos. Isso certamente motiva a localização e caracterização de
mais rajadas de rádio”, acrescenta Ramesh Karuppusamy, do Instituto Max Planck
de Radioastronomia (MPIfR), na Alemanha, coautor do artigo.
Muitas rajadas rápidas de rádio foram encontradas cercadas por jovens
estrelas massivas, muito maiores que o Sol. Nesses locais, explosões estelares
são comuns e deixam para trás remanescentes altamente magnetizados.
Então, os cientistas passaram a acreditar que explosões rápidas de
rádio podem ser criadas em objetos conhecidos como magnetares, que são
remanescentes extremamente densos de estrelas que explodiram. E eles são os
ímãs mais poderosos conhecidos do universo.
“Espera-se que os magnetares sejam brilhantes e novos, e
definitivamente não cercados por estrelas antigas. Assim, se o que estamos
olhando aqui é realmente um magnetar, então ele não pode ter sido formado a
partir de uma jovem estrela explodindo. Tem que haver outra maneira”, diz Jason
Hessels, da Universidade de Amsterdã e também pesquisador do ASTRON.
Para os cientistas, portanto, a fonte de flashes de rádio é um magnetar
que se formou quando uma anã branca se tornou maciça o suficiente para entrar
em colapso sob seu próprio peso.
Com o tempo, estrelas comuns como o Sol envelhecem e se transformam em
pequenos objetos brilhantes chamados anões brancas. Muitas estrelas no
aglomerado vivem juntas em sistemas binários. Das dezenas de milhares de
estrelas no aglomerado, algumas se aproximam o suficiente para que uma estrela
colete material da outra. “Isso pode levar a um cenário conhecido como colapso
induzido por acreção”, explica Kirsten.
“Se uma das anãs brancas pode pegar massa extra suficiente de sua
companheira, ela pode se transformar em uma estrela ainda mais densa, conhecida
como estrela de nêutrons. Essa é uma ocorrência rara, mas em um aglomerado de
estrelas antigas, é a maneira mais simples de fazer rajadas rápidas de rádio”,
diz o membro da equipe Mohit Bhardwaj, da Universidade McGill, no Canadá.
Como se não fosse o suficiente, os astrônomos encontraram uma terceira
surpresa: alguns dos flashes eram ainda mais curtos do que eles esperavam, e
isso levantou uma suspeita. “Os flashes cintilavam em brilho dentro de apenas
algumas dezenas de nanossegundos. Isso nos diz que eles devem estar vindo de um
volume minúsculo no espaço, menor do que um campo de futebol e talvez apenas
dezenas de metros de diâmetro”, diz Nimmo.
Novas observações podem obter
mais detalhes sobre o fenômeno
Sinais rápidos de raios foram vistos de uma das mais famosas estrelas
de nêutrons já descobertas, o Pulsar do Caranguejo. É um pequeno e denso
remanescente de uma explosão de supernova que foi vista da Terra em 1054, na
constelação de Touro.
“Alguns dos sinais que medimos são curtos e extremamente poderosos, da
mesma forma que alguns sinais do Pulsar do Caranguejo. Isso sugere que estamos
realmente vendo um magnetar, mas em um lugar que os magnetares não foram
encontrados antes”, diz Kenzie Nimmo.
Observações futuras poderão dizer se a fonte realmente é um magnetar
incomum, ou outra coisa, como um buraco negro ou uma estrela densa em uma
órbita próxima. “Essas rápidas rajadas de rádio parecem estar nos dando uma
nova e inesperada visão de como as estrelas vivem e morrem. Se isso for
verdade, eles podem, como supernovas, ter coisas para nos dizer sobre estrelas
e suas vidas em todo o universo”, diz Kirsten.
Para estudar a fonte na mais alta resolução e sensibilidade possível, os cientistas combinaram medições de telescópios da European VLBI Network (EVN), além da comparação de dados de 12 antenas parabólicas espalhadas pela Suécia, Letônia, Holanda, Rússia, Alemanha, Polônia, Itália e China. As medições da EVN foram complementadas com dados de diversos outros telescópios, entre eles o Karl G. Jansky Very Large Array (VLA), no Novo México, EUA.
Fonte: Olhar Digital
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