Hubble faz 32 anos: veja cinco coisas que você não sabia sobre o telescópio espacial da NASA
Ele é mais velho que muitos de seus fãs e, para os fãs com mais idade
que ele, a sensação de “ver o menino crescer” é inevitável: o telescópio
espacial Hubble, da NASA, completa 32 anos nesta segunda-feira (25), tendo
começado a sua órbita a 547 quilômetros (km) da órbita da Terra em 25 de abril
de 1990 – um dia depois de ser lançado pelo finado programa de ônibus
espaciais.
A agência espacial americana recentemente divulgou uma imagem
celebratória feita por ele (que você confere logo abaixo, em um vídeo
especial), mostrando um agrupamento de galáxias e provando que, apesar de estar
no fim de sua missão, o nosso “velhinho” ainda tem bastante capacidade. A fim
de entrar no mesmo ritmo de comemoração, o Olhar Digital também relembra cinco
informações do universo que nós só conseguimos descobrir por causa do Hubble:
Quantos anos nós realmente temos
Antes do Hubble, os astrônomos tinham uma certa dificuldade de
determinar a real idade do universo. Antigamente, estimativas iam de 10 bilhões
de anos para 20 bilhões de anos e, convenhamos, qualquer diferença na casa dos
“bilhões” é bem grande (comparativamente: 2,5 bilhões de batimentos cardíacos
equivalem…à sua vida inteira, do nascimento à velhice).
Com o advento do telescópio espacial, nós fomos capazes de observar tipos
muito específicos de estrelas – chamadas “cefeidas”, classificadas como
gigantes ou supergigantes amarelas de 100 a 30 mil vezes mais brilhantes que o
Sol – com mais precisão. Esse brilho foi o que nos deu a maior exatidão da
idade do universo: 13,78 bilhões de anos, um número calculado pelo tempo de
chegada dessa luminosidade à Terra.
Estamos aumentando, não
encolhendo
Uma questão perene para qualquer astrônomo é: se sabemos como começamos
(Big Bang), como vamos acabar? Uma das teorias mais comuns é a do Big Crunch –
basicamente, se o Big Bang foi a explosão que jogou tudo para todos os lados, o
Big Crunch seria o seu oposto, com todos os corpos celestes eventualmente sendo
atraídos para um ponto em comum, se esmagando a uma taxa avassaladora.
Bom, ainda não sabemos se essa teoria – ou mesmo outras – será
confirmada, mas o Hubble, este “jovem” de 32 anos, nos deu uma ideia diferente,
comprovando que o universo está não só ainda está se expandindo, como vem
fazendo isso a uma velocidade mais rápida do que pensávamos: 74 km/s/Mpc – ou,
em termos expressos, setenta e quatro quilômetros por segundo por megaparsec
(um megaparsec é igual a mil parsecs, ou 308.567.758.127.995.860 km).
Outra curiosidade, aliás: esse número é estipulado pela chamada “Lei de
Hubble”, atribuída ao astrônomo americano Edwin Hubble…cujo sobrenome serve
como nomenclatura para o longevo telescópio espacial da NASA.
Ele descobriu os exoplanetas
Antes do Hubble, nós não tínhamos ideia de que outros planetas existiam
fora do nosso sistema solar. Obviamente, hipóteses sempre foram formuladas
dentro dessa possibilidade, mas apenas com o telescópio espacial é que fomos
capazes de observar outras estrelas com corpos planetários se movendo em suas
órbitas.
Recentemente, a NASA confirmou a existência de mais 5 mil exoplanetas –
fora uns 8 mil candidatos -, ampliando nossas confirmações em pouco mais de 30
anos. Evidentemente, nem todos foram detectados pelo Hubble (o Transiting
Exoplanet Survey Satellite – ou “TESS” – é hoje o maior responsável por novas
descobertas), mas digamos que, se o Olhar Digital tem uma página dedicada a
exoplanetas, nós devemos isso ao Hubble.
Ele tem um defeito grave que
quase o fez virar piada
Quem vê nossas notícias sobre o Hubble hoje nem imagina a dificuldade
que foi para conceber o projeto e levá-lo lá para cima. Primeiramente, seu
lançamento foi adiado por causa do desastre da missão Challenger, um acidente
fatal que viu um ônibus espacial (Challenger OV-099) explodir pouco mais de um
minuto após seu lançamento, matando todos os sete astronautas que o tripulavam,
em 1986.
Depois, já no espaço, a NASA percebeu pelas primeiras imagens feitas
pelo Hubble que um de seus espelhos telescópicos – o principal, aliás – foi
polido “demais”, ficando fora das especificações necessárias. Fisicamente, a
alteração era mínima (coisa de um quinquagésimo da espessura de um fio de
cabelo). Na prática, isso era mais que suficiente para borrar qualquer imagem
que ele produzisse.
O problema virou capa de várias revistas de projeção global – a
Newsweek chegou a chamá-lo de “Fiasco de US$ 1,5 bilhão”, em referência ao
custo de seu desenvolvimento e lançamento. O conserto viria apenas em 1993,
quando um grupo de astronautas conseguiu instalar um instrumento conhecido como
“COSTAR”, que consiste de uma série de pequenos espelhos que corrigem a falha
do principal a cada registro de imagem.
Você pode usar o Hubble (se tiver
a paciência necessária)
Embora ele seja uma propriedade da NASA, o Hubble, ao longo de seus 32
anos, foi usado por vários astrônomos, de várias agências, organizações e até
mesmo profissionais independentes. Isso porque, no espaço, não há restrições de
propriedade, uma vez que informações do universo são, legalmente, classificadas
como “interesse global”.
Na prática, isso significa que qualquer pessoa pode usar o Hubble,
independente de sua aptidão, conhecimento ou estudo. Mas calma: há uma ressalva
que tende a eliminar boa parte da sua vontade – a paciência. Isso porque o Hubble é uma das peças de observação astronômica mais
importantes da história, então algo assim, ainda que “livre” em uso, tem uma
concorrência absurda na fila de propostas enviadas aos seus operadores.
Funciona assim: um comitê especial analisa propostas de observação com
base em pré-estudos – você determina um campo de pesquisa que acredita que o
Hubble lhe ajudará a desvendar. Esse painel avalia a proposta e determina sua
validade e prioridade, e então você ganha acesso ao uso do telescópio. É mais
ou menos como o trabalho de conclusão de curso (TCC) de algumas graduações na
faculdade: você entrega um “pré-tema” ao orientador, ele aprova, você começa a
pesquisa de fato.
Parece simples, mas na prática é bem pior que isso: todo ano, centenas,
talvez milhares de astrônomos enviam propostas ao comitê. E menos de um quinto
– ou 20% dessas aplicações – conseguem seu objetivo, com datas determinadas em
comum acordo entre candidatos do estudo e o painel gestor.
Não suficiente o fato de você sequer escolher quando vai usá-lo, quem
não for aceito deverá se contentar com acesso antecipado ao acervo de fotos do
Hubble. As imagens do telescópio se tornam públicas um ano após serem
registradas, mas alguns candidatos acessam o arquivo antes disso se comprovarem
a necessidade para tal.
Futuro do Hubble: mais 32 anos à
frente?
Evidentemente, o Hubble, com seus 32 anos de história, tem muito mais
curiosidades que poderíamos dedicar um dia inteiro para listar aqui. Mas assim
como todo trabalhador que dedicou mais da metade da vida (ou, no caso dele,
toda a vida) a uma função específica, ele também merece se aposentar.
O telescópio espacial James Webb, tido como o seu sucessor espiritual e
lançado em 25 de dezembro de 2021, já está em sua posição no espaço, fazendo os
ajustes finais para começar a trabalhar para valer. Tecnologicamente falando,
ele é muitas e muitas vezes superior ao Hubble, o que nos permitirá fazer
observações ainda mais detalhadas do universo.
Ao Hubble, fica a paralisação gradual de 32 anos de atividades: ele
continuará operando porque foi desenhado para isso, mas pouco a pouco, receberá
menos atenção de seus operadores, até que um dia ele simplesmente descanse –
merecidamente, depois de uma vida dedicada a expandir nossos conhecimentos
sobre o que tem “lá fora”.
Fonte: Olhar Digital
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