Astrónomos descobrem uma galáxia que não deveria existir
Uma equipe de astrónomos liderada
por Tim Carleton, investigador assistente da Universidade do Estado do Arizona,
descobriu uma galáxia anã que apareceu nas imagens do Telescópio Espacial James
Webb e que não era o alvo principal da observação.
Composição colorida de PEARLSDG
feita com dados do instrumento NIRCAM (Near-InfraRed Camera) do Telescópio
Espacial James Webb. As estrelas individuais são visíveis como pequenos pontos
de luz. A sua cor algo baça e a ausência de muitas estrelas brilhantes é
consistente com a sua idade avançada e a falta de formação estelar em curso. Crédito:
NASA, ESA, CSA, Jake Summers (Universidade do Estado do Arizona), Jordan C. J.
D'Silva (Universidade da Austrália Ocidental), Anton M. Koekemoer (STScI),
Aaron Robotham (Universidade da Austrália Ocidental) e Rogier Windhorst
(Universidade do Estado do Arizona)
As galáxias estão unidas pela gravidade e são constituídas por estrelas e planetas, com vastas nuvens de poeira e gás, bem como matéria escura. As galáxias anãs são as galáxias mais abundantes no Universo. Por definição, são pequenas e têm baixa luminosidade. Têm menos de 100 milhões de estrelas, enquanto a Via Láctea, por exemplo, tem quase 200 mil milhões de estrelas.
Observações recentes da
abundância de "galáxias ultradifusas" para lá do alcance de grandes
levantamentos espetroscópicos anteriores sugerem que a nossa compreensão da
população de galáxias anãs pode estar incompleta.
Num estudo publicado
recentemente, Carleton e a sua equipa estavam inicialmente a observar um enxame
de galáxias como parte do projeto PEARLS (Prime Extragalactic Areas for
Reionization and Lensing Science) do Telescópio Espacial James Webb.
A galáxia anã, PEARLSDG, apareceu
em algumas das imagens do JWST obtidas pela equipa. Não era de todo o alvo -
estava apenas um pouco afastada do campo de observação principal, numa zona do
espaço onde não esperavam ver nada.
Os seus resultados foram
publicados na revista The Astrophysical Journal Letters.
PEARLSDG não tinha as
características habituais que se esperaria ver numa galáxia anã. Não está a
interagir com uma galáxia próxima, mas também não está a formar novas estrelas.
Trata-se, afinal, de um caso interessante de uma galáxia isolada e quiescente.
"Este tipo de galáxias anãs
isoladas e quiescentes não tinha sido visto antes, à exceção de relativamente
poucos casos. A sua existência não é esperada, tendo em conta a nossa
compreensão atual da evolução das galáxias, por isso o facto de estarmos a ver
este objeto ajuda-nos a melhorar as nossas teorias sobre a formação
galáctica", disse Carleton. "Geralmente, as galáxias anãs que existem
por si só continuam a formar novas estrelas".
Até agora, a compreensão dos
astrónomos sobre a evolução das galáxias mostrava uma galáxia isolada que
continuava a formar estrelas jovens ou interagia com uma galáxia companheira
mais massiva. Esta teoria não se aplicou a PEARLSDG, que se apresenta com uma
população estelar antiga, não formando novas estrelas e mantendo-se isolada.
Mais uma surpresa: nas imagens do
JWST, obtidas pela equipa, podem ser observadas estrelas individuais. Estas
estrelas são mais brilhantes nos comprimentos de onda do Webb; é uma das
galáxias mais distantes em que podemos ver estas estrelas com este nível de
pormenor. O brilho destas estrelas permite aos astrónomos medir a sua distância
- 98 milhões de anos-luz.
Para este estudo, Carleton - que
é investigador assistente no Centro Beus para as Fundações Cósmicas na Escola
da Terra e da Exploração do Espaço na Universidade do Estado do Arizona - e a
sua equipa utilizaram uma vasta gama de dados.
Estes incluem dados do
instrumento NIRCam (Near-InfraRed Camera) do JWST; dados espectroscópicos do
DOS (DeVeny Optical Spectrograph) do LDT (Lowell Discovery Telescope) em
Flagstaff, no estado norte-americano do Arizona; imagens de arquivo dos
telescópios espaciais GALEX e Spitzer da NASA; e imagens terrestres do SDSS
(Sloan Digital Sky Survey) e do DECaLS (Dark Energy Camera Legacy Survey).
O NIRCam do JWST tem uma
resolução angular e sensibilidade muito elevadas, permitindo à equipa
identificar estrelas individuais nesta galáxia distante. Tal como células
individuais focadas num microscópio, estas observações permitiram focar nos
componentes de PEARLSDG.
É importante notar que a
identificação de estrelas específicas na imagem forneceu uma pista chave para a
sua distância - estas estrelas têm um brilho intrínseco específico, pelo que,
ao medir o seu brilho aparente com o Webb, a equipa foi capaz de determinar a
sua distância. Estas estrelas são algumas das mais distantes estrelas do seu
tipo a serem observadas.
Todos os dados das imagens de
arquivo, observados nos comprimentos de onda ultravioleta, ótico e
infravermelho, foram reunidos para estudar a cor de PEARLSDG. As estrelas
recém-formadas têm uma assinatura de cor específica, pelo que a ausência de tal
assinatura foi usada para mostrar que PEARLSDG não estava a formar novas
estrelas.
O DOS do LDT espalha a luz dos
objetos astronómicos em componentes distintos, permitindo aos astrónomos
estudar em pormenor as suas propriedades. Por exemplo, a mudança específica de
comprimento de onda, observada nas características dos dados espectroscópicos,
codifica informação sobre o movimento de PEARLSDG, usando o mesmo "efeito
doppler" que os radares usam para medir a velocidade dos condutores nas
estradas.
Isto foi fundamental para mostrar
que PEARLSDG não está associada a nenhuma outra galáxia e está verdadeiramente
isolada.
Além disso, determinadas
características do espetro são sensíveis à presença de estrelas jovens, pelo
que a ausência dessas características corroborou ainda mais as medições da
ausência de estrelas jovens dos dados de imagem.
"Isto estava absolutamente
contra as expetativas das pessoas para uma galáxia anã como esta", disse
Carleton.
Esta descoberta altera a
compreensão dos astrónomos acerca da forma como as galáxias se formam e
evoluem. Sugere a possibilidade de que muitas galáxias isoladas e quiescentes
estão à espera de serem identificadas e que o JWST tem as ferramentas para o fazer.
Esta investigação foi apresentada
numa conferência de imprensa do 243.º Encontro da Sociedade Astronómica
Americana no passado mês de janeiro.
Fonte: Astronomia OnLine
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